“O esforço faz alguns homens famosos.
Um esforço ainda maior permite a outros grandes homens permaneçam desconhecidos”
“Reflexiones”, Idries Shah.
Estamos vivendo um momento absolutamente novo para a humanidade.
Tentamos comparar com guerras ou outras situações traumáticas; porém, o momento atual transcende todas as experiências que já vivemos. Não temos modelos anteriores que possamos usar e novos parâmetros são necessários.
Os profissionais da saúde estão numa situação de grande estrese e muita demanda. Quando passamos por situações emergenciais sentimos ansiedade ou corremos o risco de ficar anestesiados se não nos diferenciarmos.
O que é se diferenciar e como fazer?
Se diferenciar é assumir a posição eu e responsável dentro de um universo com tantas ideias, ameaças e provações.
O que promove a diferenciação é o auto conhecimento.
O auto conhecimento vem do saber que pertencemos a uma família onde se estabeleceu um processo educativo ao qual estamos inseridos. Muitas vezes os padrões de comportamentos estabelecidos, através da educação que recebemos, ao longo de nossas vidas, são só padrões que se repetem sem ao menos questionarmos. No momento atual precisamos ser mais positivos. Escolher alguns comportamentos funcionais. Se o nosso processo educativo revela nuances que nos paralisam ou dificultam a lida com a vida no dia a dia, nesse sentido, refletir sobre auto conhecimento e assumir a posição Eu é fundamental.
A posição Eu vem do distanciamento estratégico que tomamos no sentido de questionar certas consignas que vem a nossa cabeça e nos debilita ou nos deixa paralisados: “não vou conseguir”, “pode ficar muito pior”, “o mundo é perigoso”, “você não é suficientemente bom fazendo o que faz”. Será que isso é uma realidade ou somente uma ideia que vem na minha cabeça?
De quem são essas ideias que vem na minha cabeça?
Com quem eu aprendi?
Como meu pai ou minha mãe lidava com as situações adversas?
Uma ideia não pode ser maior que a pessoa.
Essas consignas criam padrões de comportamento que se transformam em crenças sobre si mesmo. É preciso ampliar o conhecimento sobre si mesmo: “conhecimento é algo que você pode usar, crença é somente algo que te usa”, como nos ensina Idries Shah, em seu livro “Reflexiones”.
Quando falamos de esforço estamos falando de colocar um pouco mais de energia naquilo que estamos fazendo. Esforço não é sacrifício. O sacrifício é uma forma desesperada e disfarçada para procurar aprovação e reconhecimento do outro. Sacrifício está vinculado a uma vontade de ser aplaudido por aquilo que fez.
O Esforço é uma energia ativa. O esforço está ligado a percepção da necessidade.
Qual é a sua necessidade? Qual a necessidade do momento presente?
Cuidar do outro é cuidar de si mesmo. O treinamento daqueles que estão vinculados ao cuidado vai sempre na direção da ajuda ao outro. Porém, o outro mais próximo de você é você mesmo. Cuidar de si nesse momento é fundamental. Se conhecer é fundamental. Como?
Se pergunte como está sentindo e se pode se sentir melhor se não está muito bem?.
É certo que muitas vezes esbarrará na negatividade sua ou do outro. Lidar com isso requer um elemento a mais em termos de conhecimento. Isso inclui conhecimento e compaixão e não só informação.
Informação é diferente de Conhecimento .
A primeira pode nos dar algum parâmetro mas o objetivo dela é ela mesma, ou seja mais informação. Nos dia de hoje informação provoca um certo mal estar, precisamente, por causa do excesso e pela falsidade de algumas.
O segundo é produto de uma leitura mais sábia sobre uma determinada situação. Implica em acrescentarmos outros ingredientes tais como: compaixão, reflexão, consciência do medo e dos riscos, prudência. Exercitar tudo isso e algo mais, consigo mesmo e com o outro.
Procurar descobrir um propósito para seu dia é um caminho.
O que posso fazer de concreto? Lavar minha louça? Arrumar minha cama? Trabalhar na web?Ler um livro? Qualquer ação cotidiana que promova alguma rotina é bem vinda. Novas rotinas precisam ser desenvolvidas.
O que posso fazer para me sentir melhor e beneficiar meu grupo de trabalho? Outra pergunta importante.
Se preciso estar presencialmente em minhas funções uma pequena atitude generosa com um colega pode ser eficaz; um olhar, um café, uma palavra, um ato educado, chamar uma pessoa pelo nome, pedir ajuda a uma força superior que pode ser feita ao invocar a bondade da humanidade ou a vontade de ser feliz que habita dentro de todos nós.
Assim trabalhamos no coletivo. Assim podemos ser mais compassivos.
Todo ser humano quer ser feliz e o que sustenta a felicidade é a qualidade de relação que estabelecemos conosco e com o outro.
A primeira unidade coletiva que conhecemos é a família. Nessa matriz aprendemos a dialogar, discordar, onde temos os primeiros embates e desenvolvemos valores. É nela que aprendemos os parâmetros que vamos usar e seguir na vida, seja reproduzindo aquilo que aprendemos, seja escolhendo novas formas de comportamentos. Faça perguntas do tipo:
Que valores posso usar nesse momento de pandemia?
Como quero ser lembrado pelas pessoas que estão ao meu redor?
Para não se mecanizar precisamos fazer algumas reflexões para que assim possamos nos comprometer com um propósito no dia a dia de trabalho e ao retornar para a casa ou retornar de suas funções em home office, se sentir conectado com a vida. Coisas como: “hoje conclui um trabalho”, “hoje atendi muitos paciente”, “hoje lembrei de respirar entre uma tarefa e outra”, “hoje liguei para um amigo querido”, “hoje arrumei minha casa, lavei minha roupa”. Avalie seu dia. Tenha esse propósito claro, construido de forma singela. Usar termos de referência construtivos nos ajuda a operar melhor com tantas mudanças.
Esforço é a palavra/ato para o momento.
Procurar pares cooperativos, no seu lar, no seu trabalho é um instrumento valioso. Ser cooperativo é fundamental.
Desenvolver uma postura ativamente positiva proporcionará um desempenho maior desse esforço e assim seremos mais inclusivos.
Isso faz milagres em nós mesmos, nos outros e no momento que vivemos.
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