Álcool e Sexo duplinha fatal

By 5 de fevereiro de 2024Para Meditar

Álcool e Sexo duplinha fatal

Lendo o texto da Universa de Amaury Mendes Junior terapeuta sexual e Lucia Rosemberg Psicoterapeuta me inspirou a fazer uma reflexão sobre o tema.

Esse combo, álcool e sexo vem sendo muito comum e quase banalizado nas noites de sexta a domingo. Algumas pessoas tornam a vida tão intensa nessa direção que já iniciam na famosa “quintou”.

Existem diversos fatores para que isso ocorra, mas o que me impressiona é que essas mesmas pessoas dizem que vivem assim porque ‘ninguém quer nada sério’. Já ouvi essa frase diversas vezes em minha prática clínica e isso me faz pensar que própria pessoa que diz isso queira nada sério ou tecnicamente falando tem dificuldade com essa intimidade que vai além do corpo.

Para mim como terapeuta familiar sistêmica vejo que a questão da auto estima e falta de força de vontade é efeito colateral das dificuldades que a pessoa desenvolveu no núcleo familiar. Seja ele qual for pais heteros, homoafetivos, escolas para pessoas desprovidas de pais e que vivem em orfanatos, pais adotivos e famílias escolhidas .

Qualquer modalidade de grupo de cuidado pode construir determinados padrões de comportamento que desenvolvem atitudes de abuso de sexo e álcool. Acho que podemos falar de comportamentos compulsivos.

A dificuldade com o tema é a qualidade do sintoma. Ambos são prazerosos. Mesmo que imediatos – daí a repetição – levam ao prazer e descarga de tensão.
Muitas pessoas usam o sexo e o álcool para descarregar tensão. Por isso para iniciarmos um tratamento precisamos pesquisar a qualidade do exercício físico que a pessoa faz. Isso é um passo que ajuda demasiadamente no tratamento. Ensinar a pessoa a pensar naquilo que é construtivo ou destrutivo pode ser um segundo passo. Sim um segundo passo pois o aspecto de certo e errado que se instala no pensamento pode ser um truque para o ‘eu sou mesmo assim’, ‘não posso viver sem sexo’. A banalização do álcool e do sexo se instala como um veludo nesse contexto.
Esse padrão de pensamento binário, isso é certo, isso é errado, estimula a superficialidade do comportamento evitando a introspecção e reflexão sobre aquilo que me faz bem e aquilo que me machuca. Ouvi recentemente uma criança de 6 anos dizer quando estava chorando porque se machucou e alguém lhe ofereceu um chocolate: “quando meu corpo se machuca não gosto de comer”. Achei essa observação muito interessante pois quantos atos compulsivos advém de machucados físicos e emocionais? A criança estava sentida e queria sentir e deixar passar. Respeitar a percepção do outro faz parte do processo de inclusão sutil das relações. O que o outro me fala, acrescenta e me faz pensar e muitas vezes mudar. Quando foi que corrompemos essa fronteira? Uma boa pergunta a ser feita para nossos clientes.
A família tem papel preponderante em facilitar ou inibir nossas percepções. Quando facilitam ampliamos nossos horizontes de pensamentos e afetivos, quando inibem somos obrigados a repetir padrões familiares e ou ’clichets’ sociais ‘aceitos’ e nesse sentido somos agenciados pelo bem e o mal. A dificuldade se ergue no agenciamento e isso nos torna mecânicos e sem alma.

Alfabetizar-se no afeto é um trabalho que só acontece se temos como referencia o núcleo familiar. As crianças são alfabetizadas na medida do conhecimento de seus pais. Conhecer nosso núcleo familiar é ter parâmetro para escolhas não é se opor ou censurá-los mas sim como falamos em terapia familiar sistêmica, se diferenciar. Como nos orienta Bowen, se diferenciar não é ser diferente mas sim tomar uma distancia adequada da família sem atacar, recuar ou se esconder. Não podemos escolher como vamos nos comportar se não conhecemos o quanto um padrão familiar de comportamento nos afetou na nossa família.

Para mim tratar desse binômio álcool – sexo tem que ter o viés familiar. Familia como unidade emocional (Bowen). Familia como formadora de padrões relacionais que se reeditam em nossas relações de casamento, amizades e profissionais.

Não basta tratar do comportamento é preciso ir a fonte do conjunto de normas, ações trianguladas e concatenadas que se instalam de forma condicionada em nossos hábitos do presente.

Mudar um comportamento pode ser efetivo mas compreender a raiz do padrão garante a possibilidade de se diferenciar e exercer aquilo que acreditamos. O livre arbítrio só pode ser garantido a partir de uma ampla visão do sistema educativo primário.

Zeneide Jacob Mendes
Psicologa
Especialista em Terapia Familiar Sistêmica
Formadora e Supervisora

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