Positividade e Intenção

Não é muito comum, na cultura ocidental, observar a si mesmo de forma construtiva.  Na verdade, quando essas observações sobre si mesmo são feitas, muitas vezes, carregam um tom hostil de que você “deveria saber que não fez de maneira certa”.  Esses são os efeitos colaterais de um pensamento calcado em prêmio e castigo, um pensamento binário — é isso ou aquilo, você está certo ou errado.  Essa ótica serve para algumas coisas, mas não para todas.  Observar a si mesmo implica outra perspectiva, outra forma de se pensar: o construtivo ou destrutivo.

Ter atitudes construtivas ou destrutivas implica redimensionar até onde podemos ir e quando devemos parar.  Andar de bicicleta é construtivo, mas se eu ficar 2 dias pedalando sem parar pode ser destrutivo.  Nesse sentido, o limite revela a percepção de que estou ultrapassando uma fronteira do meu bem estar e do próximo — se for uma situação que envolva o outro.  Por exemplo: conversar sobre assuntos “delicados” é bom, porém se não conseguimos parar pode virar uma discussão.

 

Observar a si mesmo requer trabalhar com referências que implicam uma maior possibilidade reflexiva.  Olhar as próprias reações diante de coisas que provocam impacto sobre si mesmo.

 

Temos muitas atitudes que se baseiam no passado e no nosso processo educativo na infância e adolescência.  Essas atitudes são automáticas e/ou reativas por serem condicionamentos e padrões de comportamentos adquiridos. Esses padrões, quando são negativos, nos mobilizam e nos levam a pensar coisas do tipo: “Não podemos fazer nada a respeito”.  Na verdade, esse pensamento é uma forma de evitar o assunto.  Evitar usar a disciplina de olhar para si mesmo. Evitar observar o padrão.

 

“Não olhe para si mesmo procurando algo negativo.  Olhe para aquilo que você pode incrementar”. Omar Ali Shah

 

A única utilidade em identificarmos o negativo é poder fazer algo a respeito. Podemos colocar atenção para superar a situação.  Um pouco mais de atenção, sem tensão.

 

Olhar do ponto de vista positivo/construtivo é uma arte pois algumas situações precisam ser toleradas e não podemos nos afastar delas por diversos motivos — por exemplo, em  nosso ambiente de trabalho.

 

Pergunte-se:  Por que a situação não poderia ser mais positiva? Por que deveria ser negativa?

 

Pensar de maneira negativa/destrutiva é usar referências que não somam e que levam você a cair numa armadilha que, na realidade, pode se tratar de preguiça, falta de previsão, algum tipo de convicção de fundo de poço. A estratégia é identificar que se está preso numa armadilha e que, na verdade, a forma negativa não deveria influenciar a forma como agimos. Não deveriam perturbar a maneira de ser da pessoa. Por exemplo, observem uma criança, como ela brinca e se diverte.  O circuito cerebral dela tem uma forma naturalmente positiva de funcionar; ela pula, ri, grita e repete muitas vezes o mesmo ato.   Acreditar que esse circuito neurológico existe dentro de nós e funciona apesar de todos os nossos condicionamentos,  que se sobrepõem como camadas, nos permite perceber essa natureza saudável e prazerosa do existir.

 

Devemos sempre nos perguntar: Os problemas que tenho são válidos? Devo dar alguma importância? Qual a medida? Poderia chamar esses problemas de situações da vida? Posso aprender formas de lidar com eles ? Existem mais soluções que problemas.

 

Precisamos estar convictos sobre a qualidade e a maneira como funcionamos no dia a dia.  Convictos de que podemos escolher seguir num processo desesperante ou criar opções e estratégias de funcionamento.  Pensar de uma maneira útil e valiosa.

 

A pergunta é: O que você pode fazer de melhor para si mesmo e para o grupo ao qual pertence? Como pensar de forma útil e valiosa sobre aquilo que você faz?

 

Podemos desenvolver uma disciplina gentil na qual as situações negativas podem estar sobre controle.  Um protocolo de conduta ajuda e direciona nossos comportamentos. Muitas vezes uma atitude simplesmente mais construtiva pode harmonizar uma situação.  Nada será perfeito se você é sempre receptor de problemas e pensamentos negativos.  Existem situações que nem sempre são problemáticas, e você pode influenciar essas situações de forma positiva.

 

Avaliar nossas capacidades — pois elas podem ser avaliadas e incrementadas —  permite que novas capacidades sejam desenvolvidas. Se não agirmos de forma construtiva ficaremos a vida inteira esperando que algo aconteça. Isso é pensamento mágico.

 

Esperança e ação são necessárias.  Ser positivo implica ter uma ação duradoura, influenciada por sua Intenção e recordada diariamente.  Será um guia para suas condutas e você poderá, assim, ter mais compreensão sobre si mesmo. Compreensão útil, uma forma de olhar para si de maneira construtiva.  Nesse sentido, você entra em contato  consigo mesmo acessando um padrão de pensamento funcional que te guia e motiva.

 

A motivação tem que vir de você, e a forma como você pensa sobre si mesmo aciona ou não essa motivação. Essa é uma chave preciosa.

 

Ser positivo não te leva a uma compreensão instantânea sobre si mesmo, mas te leva, a todo instante, a pensar em uma forma útil de se comportar, de compreender e  de se qualificar.

 

Olhe para si de uma forma que produza algo. Olhe para si de forma crítica, mas não hostil. e sim de maneira gentil e sensata.  Essa forma de olhar é mais educativa, pois inclui o “não sei e posso aprender”.

 

Zeneide Jacob Mendes

Psicóloga e Terapeuta Familiar

 

“Workshop das Intenções para 2021 – Objetivos e Projetos para momentos de incertezas”.

O texto acima faz parte de um trabalho que desenvolvo a mais de 20 anos.

@zeneide

 

Bibliografia:

Djendli, Aziz.  Mandela uma estratégia do bem. Rio de Janeiro: Roça Nova, 2020.

Shah ,Omar Ali. “Aspectos Metodológicos e outras palestras” – Omar Ali Shah Agha

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